Descasular

Acredito nos propósitos, nos aprendizados, nas missões. E deve ser pela grandeza destes que esse processo tão dolorido, de quebra e saída do casulo, está tão demorado.

Houve pedras e perdas no caminho, sim, mas não é isso que faz doer. São as asas coloridas que comecei a libertar, numa noite primaveril de inverno, e que só depois descobri que, com elas, posso escolher alguns cenários para voar, mas não todos.

Se antes, no casulo, não sabia a que vim nesse mundo, agora, borboleta recém nascida, quero muito tudo. Quero a liberdade de escolha que o tempo, a idade, a coerência, a razão e até, quem diria, os bons e nobres sentimentos, me negam.

Hoje me faço doer tanto por excesso de amor, à ‘vida’ e à ‘minha vida’, de maneiras diferentes. Como, entre dores d’outros, cujas asas e corpos são atingidos por males reais, posso doer-me por algo tão do bem? Sim, coube a mim entender a vida por meio de momentos positivos e, por isso, não posso ter o direito de chorar, de ser fraca, de reclamar. Preciso utilizar da inteligência, que sempre tive, e das asas, que a ‘vida’ me fez conseguir revelar, para escolher um caminho, onde eu consiga realizar os meus sonhos, fazer feliz ‘a vida que escolhi’ e contribuir com a ‘vida’ para algo lindo e maior. Quando as cicatrizes do processo se fecharem e eu aceitar a limitação do meu território, que eu o torne fértil e florido, fazendo valer na prática – e não só no mundo lúdico que criei desde então – a lição aprendida.

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